quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Neurociência


A psicologia está intimamente ligada às neurociências. Nosso cérebro comanda todo o funcionamento do corpo mas também é influenciado por nossos pensamentos e comportamentos. Abaixo algumas matérias de muita qualidade sobre o tema:
Usamos apenas 10% de nosso cérebro?

 
Numa pesquisa chamada "Você Conhece Seu Cérebro?",  Suzana Herculano-Houzel perguntou a 2000 cariocas, entre outras coisas, se eles concordavam que "utilizamos normalmente apenas 10% do nosso cérebro." A metade concordou. Fiz a mesma pergunta a 35 neurocientistas, e somente 2 concordaram. O veredicto? Essa estória de usar 10% do cérebro é nada mais do que um mito.
Vamos deixar claro logo do começo: não há qualquer razão científica para supor que usemos 10% do nosso cérebro. Nem 10% dos seus neurônios. Nem 10% da sua capacidade. Todas as evidências sugerem o contrário: usamos nosso cérebro INTEIRO. Os 10% ficam por conta da imaginação de quem conseguiu convencer quase metade da população do Rio a aceitar esse mito.
Por que tantas pessoas aceitam essa idéia dos 10% do cérebro? Talvez porque à primeira vista, essa estória parece muito convidativa. Se usamos 10% do cérebro, então temos 90% de reserva, que se conseguirmos aprender a usar, poderíamos ficar até dez vezes mais inteligentes, memorizar dez vezes mais fatos, fazer contas dez vezes mais rápido... Tudo balela.
E o que é pior, com gravíssimas conseqüências. Quem acredita que 90% do seu cérebro são dispensáveis não tem porquê evitar choques à cabeça usando capacete na motocicleta ou cinto de segurança no carro. Quem não sabe que usa seu cérebro inteiro a todos os momentos ainda não pôde realmente apreciar a maravilha que tem dentro da cabeça, e fica susceptível ao assédio de livros e cursos que se auto-denominam "científicos" e pretendem ensinar "como usar os outros 90%". Espalhar o mito de que usamos 10% do cérebro ou da sua capacidade é um dos maiores desfavores que a mídia já fez ao homem e à ciência.
Suzana Herculano-Houzel


Neurociência x meditação
 
Coisas estranhas têm acontecido nas reuniões anuais da Society for Neuroscience, entidade norte-americana que agrega neurocientistas de vários países. Os corredores abrigam várias dezenas de pôsteres falando sobre temas inusitados: estresse social, decisões econômicas, apreciação musical, meditação, sexo e paixão.
Muito vem do advento da ressonância magnética funcional, que permite vasculhar o cérebro acordado em busca de zonas ativadas ou desativadas conforme os pensamentos do dono. Graças a ela, agora a neurociência pode se meter nos sentimentos mais nobres, subjetivos e pessoais de quem se voluntaria à ciência. Há quem não goste dos resultados, que invadem a privacidade alheia e mostram milimetricamente onde faíscas se acendem no cérebro enquanto ele decide entre 20 reais agora ou 40 amanhã, medita, vê a pessoa amada, ou mesmo tem um orgasmo (sim, sim, quem tem orgasmos é o cérebro).
E se o estado de iluminação, normalmente alcançado às custas de anos de meditação, pudesse ser atingido com um único eletrodo situado estrategicamente no cérebro?
Curiosamente, a resposta dada à última pergunta pelo Dalai Lama em pessoa é “eu seria totalmente a favor”. Convidado a proferir a primeira palestra da série Diálogos entre Neurociência e Sociedade na 35a reunião anual da SFN, sediada em Washington, DC em novembro de 2005, Sua Santidade o Dalai Lama falou meia hora sobre sua infância de menino questionador e contestador, e durante outra meia hora respondeu a uma série de perguntas de uma audiência mesmerizada perante sua figura singela, simpática e sorridente.
Quando um dia lhe foi recomendada cautela com a ciência, por ser esta uma destruidora da realidade, ele replicou que a ciência apenas faz o que o budismo faz: busca a verdade. Sem investigação, não é possível enxergar a realidade. Budistas, como cientistas, são céticos – e é saudável para ambos, ele diz, rejeitar a tradição quando face a contradições.
Apreciador de longa data da neurociência, o Dalai Lama adota perante esta uma postura condizente com seu empenho em promover dois valores humanos: o intelecto e o afeto.
Se a neurociência tornasse mais fácil a meditação sem prática, ele seria a favor? “Como para a cirurgia do cérebro, sim. Mas, como as drogas ansiolíticas, não é o ideal se, para dar tranqüilidade, uma medicação adormece partes do cérebro que são fundamentais. Bom seria manter a faculdade crítica, um nível de consciência metacognitiva que consegue enxergar suas próprias falhas”.
E assim, reconfortados pelo Dalai Lama de não estarem destruindo a realidade ou a poesia da vida, vários milhares de neurocientistas voltaram para seus hotéis, para então seguirem investigando as bases cerebrais do amor, da empatia e das decisões econômicas. E, por que não, da consciência, palavra cuja definição escapa até ao Dalai Lama.
Suzana Herculano-Houzel

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